Toda noite era mesma coisa. Cansado de um dia fatigante de trabalho, me estirava na poltrona e ligava a televisão. Queria ver o jornal, me inteirar das notícias do dia. Minha esposa, igualmente cansada, compartilhava desses momentos e avançava a hora, assistindo a novela e, depois, colocávamos em qualquer canal onde houvesse imagens e uma falação qualquer.
Mas nossa “alegria” durou pouco. Vieram os filhos – um seguido do outro, com pouca diferença de idade. No princípio, nos requisitavam com seus choros e necessidades que todo bebê tem. Quando cresceram um pouco mais, estavam sempre em nosso encalço; eu os chamava de “grudinhos”, pois o tempo todo estavam “grudados” em nós.
Apesar das dificuldades de ser pai e mãe de duas criancinhas, conseguíamos conciliar alguns momentos em frente ao televisor (momentos que sempre eram de alguma forma interrompidos).
Tudo chegou a um limite insuportável, numa fase em que nossos filhos, quando chegávamos em casa, queriam nossa atenção. Vinham para a sala enquanto assistíamos TV e espalhavam seus brinquedos ao chão. Durante a brincadeira, tentavam chamar, desviar nosso foco para eles, gritando, perguntando, fazendo birra, pedindo coisas. Houve um momento, então, que eu explodi. Vociferando, coloquei todo mundo pra correr. Mandei juntar os brinquedos da sala e entrar no quarto. Minhas crianças me olharam com aquela cara de gatinhos molhados. Em silêncio, encerraram a brincadeira e se recolheram no quarto.
Finalmente, acomodei-me na poltrona para assistir ao telejornal. Minha esposa, que estava logo ao lado, me olhou com reprovação. Levantou-se e foi para o quarto com as crianças. “Tudo bem”, pensei, e fiquei ali, sozinho, com a caixa de imagens. Então pude aproveitar... mas não aproveitei... Uma sucessão de notícias de desastres, violência, corrupção e outras incontáveis atrocidades invadiram minha mente.
Saí da frente da TV “pesado”. Fui até o quarto onde minha esposa brincava com as crianças. Avisei que começaria a novela e ela disse que não iria assistir. Pude ver o semblante das minhas crianças, ainda assustadas com meu surto diante da televisão.
No dia seguinte, não ligamos o aparelho. Alguns dias depois, estragou uma peça da antena parabólica e não mandamos arrumar, pois, em conversa com minha esposa Elisa, eu disse que não havia como darmos atenção para o televisor e às crianças ao mesmo tempo. Assim, tomamos nossa decisão. Concordamos em dar atenção aos nossos filhos.
Nossos dias, noites e fins de semana continuaram sendo tão intensos como antes. Nossos filhos continuaram requisitando a mesma atenção de antes. Mas havia uma diferença: tínhamos mais tempo para eles. Minha esposa e eu podíamos atendê-los com mais frequência. O tempo que passávamos em frente à televisão começou a ser dedicado à Lívia e ao Kalel. Líamos, conversávamos, contávamos anedotas, fazíamos cócegas, montávamos aquelas atividades que vêm na revista Nosso Amiguinho, ou, simplesmente, ficávamos no ambiente em que eles estavam, fazendo alguma atividade paralela (ler, por exemplo).
Minha esposa não sabe mais quais são as novelas da TV e eu, para me atualizar das notícias, acesso um ou outro site e elejo exatamente o que quero ler. Em casa, nós que controlamos o que queremos assistir, por meio de vídeos e CDs que adquirimos.
Faz mais de três anos que não acompanhamos mais a programação de qualquer canal e confesso: não está fazendo falta. Desligar o aparelho e dar atenção aos filhos e, também, dedicar mais tempo para outras atividades, foi uma ótima escolha. Experimente. Você vai se surpreender, pois existe vida além da tela.
(Denis Cruz, funcionário público no Mato Grosso do Sul e escritor. Publica no site http://www.outraleitura.com.br/)
Fonte: Criacionismo
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